A fruta é uma peça versátil e fundamental na alimentação saudável. No Baixo Guadiana, apesar de uma vasta gama de frutícolas, existem as mais distintivas e, em alguns casos, quase exclusivas do território. Os citrinos, como a laranja, o limão, a lima, a toranja, tangerina e a clementina, têm lugar cimeiro no que concerne a frutas. Mas é decididamente a laranja com o seu doce paladar que mais reluz como a «rainha dos citrinos». O figo fresco é emblemático, com polpa carnuda e suculenta, protagonista de doçaria variada. Da romã, por baixo da casca firme, acastanhada e pesada, escondem-se os bagos vermelhos e rosados de sabor agridoce apurado. As nêsperas, que florescem por todos os cantos, variando entre a casca laranja e amarela, polpa mole e casca fina, mas de rico paladar. A ameixa, amarela, vermelha ou preta, fresca ou seca, ao natural, em compota, ou para recheio de pratos e sobremesas é outra das frutas típicas. Também a tradicional uva de mesa com cachos atraentes, polpa firme, cor intensa e bagos bem doces.
Laranja, a rainha dos citrinos
O Algarve é a maior região produtora do país, onde encontramos laranjeiras nos quintais e pequenas hortas. Uma combinação de elementos, como o solo e o clima, que se traduz num produto com paladar único. Os citrinos do Algarve têm certificação IGP (Indicação Geográfica Protegida) e a sua produção e comercialização prolonga-se praticamente por todo o ano, distinguindo-se pela sua casca fina, intensamente colorida e brilhante, e pelo seu elevado teor de sumo, particularmente doce. Do seu conteúdo vitamínico sobressai a vitamina C, o ácido fólico e provitamina A. Habitualmente a laranja é consumida ao natural, ou na forma de sumos, muito apreciados em qualquer altura do dia. É também muito apreciada na confeção de doçaria, gelados, compotas e licores.
O emblemático figo
O figo é o fruto da figueira, árvore originária da região do mediterrâneo, cujo uso se iniciou na Idade da Pedra. Os seus frutos são de estruturação carnuda e suculenta e apresentam uma coloração branco-amarelada até roxa. Trata-se de um fruto altamente energético, rico em açúcar, fibra, ácidos orgânicos e sais minerais como o potássio, o cálcio e o fósforo.
Pode ser consumido em fresco ou em seco. Os figos de mesa são os que se destinam ao consumo como fruta fresca. A pele é tenra, contém poucas sementes e a sua maturação é longa. Os figos de secar têm uma pele mais dura e compacta e amadurecem mais rapidamente. A secagem dos figos, embora simples, requer alguns cuidados básicos, tal como um local ao ar livre protegido da chuva e da humidade (tradicionalmente em esteiras nas açoteias ou nas eiras, secados ao sol) e frutos escolhidos, bem maduros e de casca intacta. Os figos secos, em regra preparados de forma artesanal, são geralmente vendidos nas feiras e mercados. Geralmente são conservados em cestos de cana, com funcho, erva doce, tomilho, entre outras plantas, bem acamados para que não se estraguem. Outros são torrados, com ou sem recheio de amêndoa.
O figo também é um ingrediente indispensável na doçaria algarvia. O «figo cheio», o «queijo de figo» ou o «morgado de figo» são apenas alguns exemplos de como este fruto pode ser utilizado. É também muito frequente a sua aplicação em «estrelas de figo e amêndoa», bolos, doces, licores, aguardente e também a «conserva de figos».
Figo da Índia
Entre os cultivares no território reativaram-se produtos ditos tradicionais e emergiram novos que atualmente se encontram em franco desenvolvimento. O figo da índia é o caso de revalorização de um produto dito “pobre” mas que agora se sabe ter mil e uma aplicações.
A planta Opuntia ficus-indica é uma espécie de cato, originário do México e da América do Sul, popularmente chamada de figueira-da-índia, figueira tuna, que dá o fruto figo da índia. Este é de formato oval e pode nascer de diferentes cores: verde, amarelo, rosa salmão, castanho ou vermelho. A sua casca, grossa e espinhosa, está cheia de água e a polpa é suave, gelatinosa, sumarenta e granulosa e contém pequenas sementes comestíveis. Era tradicionalmente utilizado na alimentação do porco preto e até há bem pouco tempo era desconhecido da maioria dos cidadãos, mas tem vindo a ganhar terreno existindo já pomares ordenados, podendo ter diversas aplicações (gastronomia ou cosmética).
O figo-da-índia é também conhecido como “figo tuna”, “figo do diabo” e é habitualmente observável no seu estado selvagem, pendurado nas Figueiras da Índia que crescem em zonas áridas. O seu manuseamento é delicado pois a casca está cheia de espinhos quase invisíveis. Para o comer ao natural, corte os dois extremos do fruto, faça um corte vertical na casca e retire toda a pele em volta com a ajuda de um talher.
Frutos Vermelhos
Com cores apelativas e texturas diversas, os frutos vermelhos conquistam pelo sabor e inúmeros benefícios salutares. Em Portugal, e especialmente no Algarve, este setor de frutos tem vindo a crescer consideravelmente pelas excelentes condições de solo e clima.
As produções mais significativas são as de morango e framboesa, com forte implantação no Algarve. Cada vez mais frequente nas casas portuguesas, as suas cores garridas estimulam o nosso apetite, e escondem inúmeras propriedades antioxidantes, capazes de combater os radicais livres, considerados os grandes responsáveis pelo aparecimento de doenças cardiovasculares,
envelhecimento da pele e por vezes até o cancro. O seu alto teor de vitamina C, estimula eficazmente o sistema imunitário e protege o organismo de diversas patologias, como constipações e gripes. Também a vitamina C, ajuda a produzir colagénio, mantendo a pele saudável e sem rugas.
Os frutos vermelhos, sejam o morango ou a framboesa, não tendo tradição, conquistaram e concorrem com mercados decisivos e públicos-alvo promissores. Ambos os produtos começam a ganhar terreno, a afirmar-se nas ementas e a ter um lugar cativo na mesa de muitas casas, seduzindo pelo palato e brotando benefícios salutares.
Medronho
O medronho, baga redonda e verrugosa, com aproximadamente 3 cm de diâmetro, de cor avermelhada, é fruto do medronheiro “Arbutus unedo” e é comestível. O fruto pode colher-se entre Outubro e Dezembro, quando a cor fica vermelha.
Tradicionalmente o medronheiro não era cultivado na região, surgindo como “arbustiva espontânea” na freguesia de Vaqueiros, concelho de Alcoutim, onde efetivamente tinha alguma expressão. Nas últimas décadas, alguns agricultores da região têm apostado na plantação e cultivo de medronheiros de uma forma mais ordenada. Esta planta é adequada para rentabilizar solos florestais, com menor aptidão cultural.
O medronho é utilizado, principalmente, para o fabrico de aguardente, no entanto também pode ser utilizado para licores, vinagres, doces e compotas. Também pode ser consumido fresco, embora não seja esta o principal uso.
*Imagens in Roteiro dos Sabores do Baixo Guadiana 2018