Símbolo maior da região, a chaminé ornamentada apresenta-se, a par da platibanda, como o elemento mais característico da arquitectura popular algarvia, apesar de, por vezes, surgir mesclada de influências eruditas. Expressão evidente do domínio de técnicas ancestrais do trabalho da massa e do «jogo» que o ladrilho ou a telha permite, utilizados também noutros elementos arquitectónicos da casa, pretende, através de complexas gramáticas formais e decorativas, para lá do seu propósito funcional, mostrar a criatividade do mestre construtor e/ou o gosto do proprietário do imóvel onde se integram.
No Algarve, as chaminés começam por ser estruturas de escoamento do fumo extremamente simples. Geralmente – e quando existentes – eram formadas apenas por uma sucessão de ladrilhos ou telhas assentadas transversalmente, sendo frequente, até há muito pouco tempo atrás, as habitações rurais não possuírem qualquer chaminé. O fogo, muitas vezes feito no chão, a um canto da divisão da casa reservada para este fim, era escoado por um simples buraco aberto no caniço, por entre algumas telhas que se alteavam. No Baixo Guadiana, por exemplo, são muitos os aglomerados onde a população refere a não existência de uma sequer chaminé.
Pelo menos a partir do séc. XVIII e ao longo do séc. XIX, começa-se a assistir ao desenvolvimento de soluções que parecem caminhar a par destes exemplares mais antigos. Mais reduzidas horizontalmente, tornam-se cada vez mais enriquecidas em termos formais, decorativos e cromáticos, chegando ao ponto de, nos inícios do séc. XX, em habitações mais humildes, a modéstia da casa contrastar até com a exuberância dos seus exemplares.
Miguel Godinho
Técnico Superior de Património Cultural - Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.
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